quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A FILHA

A FILHA
(DAUGHTER)
Jane Shemilt
A Filha não é apenas um romance de investigação policial. Vai além, discute aspectos da vida moderna e de como podemos não perceber o que se passa com as pessoas mais queridas e importantes.
A narrativa é feita por Jenny, médica e mãe de 3 filhos. Seu marido Ted também é médico e ambos são profissionais bem-sucedidos.
Um dia, sua filha Naomi de 15 anos, simplesmente não volta para casa.
As investigações não chegam a conclusão alguma, não se encontra um corpo e não há pedido de resgate. Naomi desapareceu sem deixar pistas.
Os capítulos evoluem alternando o tempo atual com o período do desaparecimento. À medida que os meses passam, todos os membros da família expõem sua opinião sobre Naomi e sobre como se relacionavam com ela.
Toda a família foi afetada, mas Jenny foi a única que não conseguiu ir adiante. Largou o trabalho numa clínica, mudou-se para outra cidade e passou a dedicar-se à pintura. Mas Naomi estava presente em seus pensamentos a cada minuto dos seus tristes dias.
“O que eu tinha perdido? Quais pistas eu precisava entender antes que fosse tarde demais? ”
Como Jenny nunca desistia de procurar Naomi, à medida que ia atrás de pistas, ela acabou por descobrir que sua filha possuía uma outra vida paralela que ela desconhecia.
Esse livro prende o leitor pela história em si, pela maneira como é contada pela mãe e pelo artifício de fazer com que, em algum momento da trama, o passado se encontre com o presente.
A narradora, que no início estava absolutamente perdida em meio ao desespero, vai se transformando numa pessoa capaz de entender o que se passava com sua filha e, mesmo com fatos chocantes, ainda assim, ser capaz de perdoar.
“Você não a conhece, mãe. Você não faz ideia”.
É um livro que pode levar às lágrimas as almas mais sensíveis.
Conclusão: muito bom.
“Talvez eu já a tivesse perdido muito antes de ela ter desaparecido e não fazia mais ideia de quem ela era”.


MINIATURISTA

MINIATURISTA
(THE MINIATURIST)
Jessie Burton
Esse romance de Jessie Burton foi considerado melhor livro de estreia em 2014.
A trama se passa na Holanda do século XVII e mistura um pouco (muito pouco) de romance e diversos temas como racismo, preconceitos e discussões sobre a situação da mulher.

A jovem Nella Oortman vive numa cidade do interior com seus pais e irmãos. Quando o pai morre, a família descobre que o falecido deixou como herança inúmeras dívidas.
 “O pai os prendeu em seu emaranhado de dívidas”.
A mãe decide então procurar um marido (rico) para a filha entre os contatos do marido e dessa forma encontra Johannes Brandt, um rico mercador de Amsterdã.
Nella chega à sua nova casa e logo descobre que terá muitas dificuldades pela frente: o marido não a esperava; a cunhada se mostrou uma pessoa arrogante; os criados a olhavam com curiosidade.
Após vários dias, o marido retorna de uma viagem de negócios. Apesar de trata-la com gentileza, mantem-se distante. Tranca-se em seu quarto e a ignora. Ela não consegue se conformar com o fato de Johannes sequer ter “consumado” o casamento.
Após algumas semanas, o marido lhe dá um presente: uma imensa cristaleira, caríssima.
“O interior da cristaleira é revelado, dividido em nove cômodos, alguns revestidos com papel de parede ornado em ouro e outros com painéis de madeira”.
Uma réplica perfeita e com todos os detalhes de sua casa.
Nella começa a receber miniaturas para sua “casa” enviadas por um estranho, cada uma acompanhada de uma frase, um enigma.
“Em silêncio, recita os lemas que já recebeu...as coisas podem mudar...toda mulher é arquiteta de sua própria sorte...eu luto para emergir”.
Depois de alguns meses de casada, Nella faz uma dramática descoberta sobre seu marido e tudo muda.
O romance é bem interessante e prendeu minha atenção.
Conclusão: ótima estreia.



quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A NONA CONFIGURAÇÃO

A NONA CONFIGURAÇÃO
(The ninth configuration)
William Peter Blatty



A Nona Configuração foi publicado pela primeira vez em 1966 com o título “Twinkle, Twinkle, Killer, Kane”, traduzido no Brasil com o título Paranoia. Em 1978, William Peter Blatty reescreveu a história com o título atual e em 1980 foi adaptado para o cinema.
A ação se passa quase toda numa mansão de estilo gótico, isolada e cercada por um bosque, transformada em manicômio para ex-combatentes militares.
O primeiro paciente foi o capitão da Força Aérea dos Estados Unidos – Nammack – internado em 1967. Logo depois, outros oficiais militares se seguiram e em nenhum dos casos havia um histórico de desequilíbrio mental ou emocional.
As autoridades do governo ficaram alarmadas e resolveram investigar o mistério, criando o Projeto Freud, um conjunto de retiros secretos nos quais os homens eram escondidos do público e estudados. O último desses retiros foi o Centro Dezoito, onde se passa a trama do livro.
No Centro Dezoito estavam internados 27 oficiais supervisionados por uma equipe mínima de fuzileiros.
Para cuidar dos pacientes o Pentágono nomeou um brilhante psiquiatra – o coronel Hudson Stephen Kane, conhecido pelos impressionantes resultados com seus métodos inovadores.
Achei o livro decepcionante. Esperava mais do escritor de um marco da literatura de terror – O Exorcista (1971), adaptado para o cinema em 1973.
Nos primeiros capítulos, os diálogos são desconexos, já que representam as conversas entre os internos. Depois de várias páginas dessa conversa sem sentido, o livro vai se tornando chato, cansativo e o leitor não consegue estabelecer uma linha de raciocínio. Apenas nos últimos capítulos, alguns fatos novos trazem algum interesse à história, levando a um final quase previsível.
Conclusão: Fraco.


DEMIAN

DEMIAN
(DEMIAN – Die Geschichte von Emil Sinclairs Jungend)
Hermann Hesse
Nos anos 60 e 70, Hermann Hesse era um escritor muito popular entre os jovens, devido a sua obra O Lobo da Estepe e ao seu misticismo oriental. Quem era jovem nessa época com certeza ouviu falar ou leu algum livro desse autor.
Demian fala de juventude e a autoconhecimento e dos conflitos entre o certo e o errado, entre o novo e o velho.
Em DEMIAN, os personagens Sinclair, Debian e Pistórius apresentam-se como projeções do próprio Hesse.
O livro é narrado por Emil Sinclair na idade adulta e inicia-se quando ele está com 10 anos e é confrontado por outro garoto, Franz Kromer, que o chantageia por conta de um suposto furto. Nessa fase do relato, Sinclair se depara com um mundo de duas faces: o luminoso – seu lar; e o sombrio – seu próprio eu.
“...mais velho do que nós, um rapazinho dos seus treze anos, corpulento e grosseiro, filho de um alfaiate e aluno da escola pública. O pai era um beberrão e a família toda desfrutava de má fama”
Quando Sinclair já não estava mais suportando as ameaças de Kromer, surge a figura de outro garoto – Max Demian, que aparenta conhecer o sofrimento e toda a angústia de Sinclair e que o inicia na jornada do autoconhecimento.
“Hoje sei muito bem que nada na vida repugna tanto ao homem do que seguir pelo caminho que o conduz a si mesmo”.
Quando vai para o ensino secundário, longe da família e de Demian, Sinclair conhece Pistórius, que também servirá como guia sobretudo nos assuntos relacionados à religiosidade. Ele vai desempenhar um papel de psicólogo amador. Acredita-se que o personagem foi inspirado no Dr. J. B. Lang, que tratou de Hesse durante seu período de depressão.
“Às vezes contávamos um para o outro os nossos sonhos. Pistórius sabia interpretá-los”
A certa altura, Pistórius percebe que foi superado pelo jovem aluno e o libera para seguir seu próprio caminho.
“Pistórius ensinou-me a conservar a coragem e a estima por mim mesmo, e serviu-me de exemplo...tornou-se o meu modelo”
Demian é considerado o primeiro grande livro de Hermann Hesse, abrindo caminho para aquele que é considerado sua obra prima – O Lobo da Estepe (1927).
Em Demian é notável a influência da obra de Nietzsche e dos estudos de Freud e Jung (interpretação dos sonhos), bem como o fato de certos personagens refletirem aspectos do próprio Hesse.
Uma curiosidade: ao escrever esse livro, Hermann Hesse assumiu a autoria com o pseudônimo Emil Sinclair, que estaria então contando suas memórias de infância. Apenas quando o livro se tornou um sucesso em toda a Europa o autor revelou sua verdadeira identidade.
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sábado, 16 de janeiro de 2016

O FIM DA INFÂNCIA

O FIM DA INFÂNCIA
(Childhood’s End)
Arthur C. Clarke
(1917-2008)


Escrito em 1952, o livro foi revisado em 1953 e em 1989 pelo próprio autor. Logo após sua publicação, O Fim da Infância foi vendido para o cinema, mas apenas em 2015 o canal pago SyFy o adaptou para uma minissérie.
Quando o filme Independence Day foi lançado em 1996, Arthur Clarke declarou que o público pensaria que ele havia plagiado o filme, devido à semelhança da cena de abertura com a primeira parte do livro.
A história tem início trinta após o fim da Segunda Guerra, quando Estados Unidos e União Soviética estão em plena guerra fria e a corrida espacial está a pleno vapor.Um acontecimento mudará radicalmente a vida na Terra: grandes naves chegam aos céus das principais capitais do mundo.
“Um único pensamento se repetia na mente de Reinhold: a raça humana não estava mais só”.
Passado o choque inicial, a humanidade acaba aceitando a presença dos chamados Senhores Supremos, pois eles não causaram nenhum mal, ao contrário, a população do planeta reconhecia que a vida se tornou melhor para todos.
“...a maioria das pessoas parece satisfeita em deixar que os Senhores Supremos governem o mundo como melhor lhes convêm”.
Os Senhores Supremos se comunicam com a humanidade através de um único homem, o secretário-geral das Nações Unidas, Rikki Stormgreen. Para essa tarefa os alienígenas designam um Supervisor chamado Karellen.
Stormgreen era o único ser humano que já havia falado com Karellen, embora nunca o tivesse visto.
Após cinco anos da presença desses alienígenas, alguns líderes religiosos e políticos questionavam o fato de que ninguém sabia qual era a sua aparência.
“...acima de tudo, abominamos essa insistência em se ocultarem”
Afinal, se não tinham nada a esconder, por que não se mostravam?

Cinquenta anos depois, os Senhores Supremos desceram de suas naves e sua aparência foi motivo de espanto e medo.
“A mais terrível de todas as lendas tornara-se real, vinda do passado desconhecido”
Mas o choque passou depressa e os Senhores Supremos passaram a conviver com os humanos, observando-os e estudando-os.
“...eles estão interessados na psicologia humana”
A trama oferece a possibilidade de reflexão sobre alguns temas importantes para o ser humano – liberdade, desenvolvimento tecnológico, religiosidade entre outros.
Abolindo todas as guerras, as doenças e a fome, os alienígenas aboliram também o espírito de aventura e a curiosidade humanas.
“Ninguém sabia os motivos deles. E ninguém sabia para que futuro estavam conduzindo a humanidade”
Os Senhores Supremos abominavam a crueldade e eram obcecados por justiça e ordem. Nunca se envolviam com países e governos individuais. Não impuseram proibições absolutas às atividades humanas – exceto as guerras – mas a pesquisa espacial tinha praticamente chegado ao fim. Como o fruto da árvore proibida do Éden.
“O ser humano ainda era, por conseguinte, um prisioneiro em seu próprio planeta”.
Seu conhecimento científico era imenso e ainda assim se interessavam por fenômenos psíquicos
Mesmo após tantos anos de sua publicação, o livro ainda tem uma história atual exatamente por trazer conflitos inerentes à natureza humana, num cenário de ficção científica.
O desfecho explica o título da obra.
Muito bom.




segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O HOMEM DO CASTELO ALTO

O HOMEM DO CASTELO ALTO
(The man in the high castle)
Philip K. Dick


Sempre gostei dos livros e filmes de ficção científica. Viagens no tempo e no espaço, tecnologias, universos paralelos, acho tudo isso muito interessante. Mas os livros e filmes que mais me conquistam são aqueles que, enquanto descrevem essas situações, ao mesmo tempo valorizam o lado humano dos personagens, de tal forma que as emoções se sobrepõem à futurologia.
Alguns exemplos – Laranja Mecânica, Uma Odisseia no Espaço, O Homem Ilustrado, Crônicas Marcianas, todos os da série Robôs de Asimov, entre outros.
No caso de O Homem do Castelo Alto (1962), o cenário sombrio em que os Aliados perdem a II Guerra após o ataque a Hiroshima, um mundo dividido entre Alemanha nazista e Japão, em que negros continuam escravos e judeus tentam se esconder sob identidades falsas, os dramas de vários personagens são analisados em detalhes.  Todos têm conexão entre si e todos, de alguma maneira, convergem para um livro polêmico chamado “O Gafanhoto Torna-se Pesado”. Seu autor vive isolado num castelo no alto de uma colina.
Nesse livro, o autor descreve uma realidade em que a II Guerra não foi perdida pelos Estados Unidos. O tema desperta a atenção das pessoas e o livro acaba sendo proibido.
Outra influência constante na vida dos personagens é o livro I Ching, disseminado após a presença dos japoneses se impor. Alguns personagens não tomam qualquer decisão sem antes consultá-lo. O próprio autor declarou que ele mesmo fez várias consultas enquanto escrevia o livro.
 O que há de interessante nesse enredo é um questionamento básico presente em quase toda obra de P. K. Dick: afinal, o que é a Realidade? Será que há uma outra Realidade alternativa a essa em que vivemos? Poderíamos alterar a nossa Realidade?
Philip K. Dick nasceu em 1928 (Chicago) e faleceu em 1982 de ataque cardíaco. Vários de seus romances e contos foram adaptados para o cinema, entre outros:
·         O Homem Duplo – homenagem a seus amigos falecidos por abuso de drogas.
·         O Vingador do Futuro
·         Minority Report – A Nova Lei
·         O Pagamento
·         O Vidente
·         Os Agentes do Destino
·         O Caçador de Androides
Recomendo ler e reler (foi o que eu fiz).











MUNDO SEM FIM

MUNDO SEM FIM
(World Without End)
Ken Follet

Num vilarejo da Inglaterra, no ano de 1327, quatro crianças presenciam um crime. Uma delas mata um homem, outra precisa guardar um segredo.
Gwenda estava com 8 anos. Seus pais são muito pobres e ela e o irmão Philemon são obrigados a fazer pequenos furtos sob orientação do pai.
Merthin tinha 11 anos e seu irmão Ralph tinha 10. Ambos são filhos de sir Gerald, um homem de armas que acabou falido. Ele gostava de lembrar que era descendente de Jack Builder, o arquiteto da catedral de Kingsbridge.
Caris era filha de um homem rico, talvez o mais rico e respeitado da cidade.
Enquanto brincavam numa colina próxima à cidade, eles acabam testemunhando uma perseguição.
“Um cavaleiro, de 20 e poucos anos, com uma espada e uma adaga comprida presas no cinto”.
As crianças fazem um acordo: “temos de guardar segredo”.
A trama se passa cerca de 200 anos após Os Pilares da Terra e percorre um período de mais de 30 anos, acompanhando as vidas dessas crianças. Elas conviverão com a Peste Negra que assolou a Europa e seus familiares e amigos lutarão na Guerra dos Cem Anos.
Merthin tem grandes habilidades em marcenaria, é inteligente e autodidata. Embora sonhe com obras que trarão vantagens para os habitantes de Kingsbridge, enfrentará o preconceito dos mais antigos e a inveja dos incompetentes.
Caris é uma jovem que sonha em ser médica, uma profissão dominada pelos homens. Ela não aceita essa situação de inferioridade e enfrentará seus adversários com firmeza, inteligência e astúcia.
“Um homem que faz unguentos e medicamentos é chamado de boticário, mas uma mulher que faz a mesma coisa corre o risco de ser chamada de bruxa”.
Gwenda lutará para alcançar seu sonho singelo de ter uma casa, um marido e filhos.
Ralph se torna um soldado e é no mundo das armas que ele poderá externar sua personalidade cruel e doentia.
Não é preciso ter lido Os Pilares da Terra para compreender Mundo Sem Fim.
O livro é ótimo e vale a pena enfrentar as mais de 1.100 páginas dos dois volumes. Os personagens vão conquistando o leitor, à medida que amadurecem e entram na vida adulta. É como se fossem crianças que você acompanha enquanto crescem.
Um detalhe que me chamou a atenção, não sei se por questões de tradução, foi a presença de palavras que não se encaixam na Idade Média como “cérebro lesionado”, “reciclar toda a água”, “ferrados no sono”, “adolescente sorumbática” ou “sua autoestima”.

CONCLUSÃO: Muito bom.
“Aprenderá que os homens de poder nunca demonstram gratidão. Qualquer coisa que lhes dermos aceitam como se fosse um direito”.